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Maria Saraiva de Menezes 
@historianumagarrafa

Escritores que vendem os próprios livros. 
“Mas tu é que vendes o teu próprio livro?”
Qual é o preconceito em relação a isto? Pois bem, não sei qual é, mas é enorme. Primeiro, há quem adore os descontos Fnac e Wook (sem ofensa) e só tenha esse formato na mente, desconhecendo outros meios de se chegar aos livros. Segundo, um escritor que anda a acarretar caixotes de livros não pode ser bom escritor. Terceiro, se se auto-publicou, então é porque não é mesmo bom. Auto-publicação, que diabo! O preconceito de que os livros se devem comprar nas livrarias (mas já se vendem no hipermercado!) e editar nas editoras com todos os intermediários associados ao processo leva a que se desconheça que do PVP (preço de venda ao público) de um livro, só 10% são para o escritor, pago uma vez ao ano (quando a editora e/ou livraria não entram em PER, falência ou simplesmente, contas atrasadas). Já me aconteceu. Poucos saberão que desse PVP, quase 60% são para a distribuição e 30% para a livraria. Mesmo assim as pobres livrarias não vendem quase nada porque as pessoas, em geral, não lêem, embora façam bicha para a Zara após 2 meses de quarentena. 


Assim, o escritor que se cansa de esperar que uma ou outra  editora alguma vez o queira publicar e avança para a auto-publicação, pagando os custos com a gráfica e a revisão e arregaça as mangas para a distribuição, não é bem visto. Os outros escritores, os ‘verdadeiros‘ fingem não o conhecer. Passam ao lado como se fosse transparente ou fora-da-lei. Para acrescentar algum tom dramático, a família e os amigos, provavelmente, não lhe reconhecem valor porque ’ninguém é profeta na sua terra’. Por isso, aqueles de quem poderia esperar algum apoio, não pode contar com ele (até porque existe também o preconceito de ´não cair bem´ vender livros aos amigos e à própria família. A esses esperar-se-ia que lho oferecesse, embora nada garanta que o queiram ler e que, efectivamente, o façam). 

Depois, o autor que também é agente de si próprio, recorre a jornalistas, a blogueres e influenciadores para partilharem a capa do livro nas redes sociais, ou jornal, com alguma palavrinha de incentivo, mas esses, imagine-se, também têm o preconceito da auto-publicação! No meu caso, a auto-publicação surgiu apenas após a crise económica de 2007-09 em que as editoras fecharam ou mergulharam numa depressão restritiva e já não havia esperança de ser publicada, mesmo após uma década a ‘publicaram-me’ 12 livros, o 1.º na Gradiva (mas isso não abriu portas), depois na Leya (curiosamente, não me levou para além do Pequeno livro da Etiqueta e outros 2); depois na Plátano, 3 livros (não me levou mais longe, como eu queria, com vários projectos de literatura infantil que ainda estão na gaveta). Era preciso mais. Então, ganhei um prémio literário (do qual não se noticiou senão num jornal regional online e nem o próprio sítio da DGLB que lançou a informação sobre o prémio, sequer emitiu a notícia do vencedor). Assim permaneci no conforto do anonimato mas também onde não se vendem livros porque "Não é conhecida!" Ganhei outros pequenos prémios, publicações aqui e ali, entrevistas na TV, festivais, feiras, etc. Note-se que o escritor é, por natureza, tímido e, no meu caso, tem horror à palavra ‘famosa’. Divulgar a informação do prémio ou livro nada tem a ver com desejo de protagonismo e ir à televisão pode ser penoso. Certa vez, chamaram-me ‘estrela’ na apresentação de um livro, mas em nada acertaram na minha vontade de fugir dali a sete pés. Noutra ocasião, elaborarei sobre a necessidade de o escritor ter de ser macaquinho de circo, acrobata de feira, maratonista de autógrafos e sobretudo, ‘estrela’ em programas da manhã. A verdade é que nada desse percurso serviu para me arrancar do destino de escrever para a gaveta (o que é muito bom, mas por vezes, ambiciona ver a luz). Cada vez que escrevia um livro enviava-o para apreciação para umas 70 editoras, no mínimo. Nunca obtive respostas. 

Quem está no meio sabe a luta hercúlea que é a dos editores em prol da literatura e da cultura. Palmas para eles que fazem tudo com fé no leitor/comprador e naturalmente não podem correr riscos com ilustres (escritores) desconhecidos. Quando publico um livro, sabem os do meio que é como ter um filho, embora isso a muitos nada interesse. Quem é de fora do meio não faz ideia desta acrobacia que é chegar ao prelo e, por isso, podem achar estranho e fazem aquela pergunta, desconfiados: “Mas tu é que vendes o teu próprio livro?” Pois sim, para não desistir, para não baixar os braços, sim sou eu que faço tudo! E se fica mal andar a contar o troco, paciência. E se me parecer com um merceeiro, paciência. E sim, também faço descontos, ofereço os portes de envio em prejuízo próprio, compro envelopes, pago IVA, entrego em mão. E se me torno repetitiva nas redes sociais, é porque ainda não os vendi, desculpem se sou chata (ou 'xata' como já me chamaram) e se patrocino (pago) publicações, é porque não chega quem lhes faz ‘gosto’ no Facebook e Instagram. Não estou a promover-me a mim própria mas a tentar que o projecto não fracasse. Vou à luta, salto, faço e vendo, mesmo que caia mal na mente do preconceito instalado contra a inversão de paradigmas. Aliás, como em tudo na vida, “Quem quer vai, quem não quer, manda.” 


Curiosamente, há outros preconceitos, para além da auto-publicação, o de que se o livro é apoiado por um município, então não é bom e outras pedradas no percurso de quem se quer fazer, independentemente do veredicto: “É impossível; desiste”. Nas editoras, normalmente com a corda ao pescoço, não entra escritor novo, e durante anos só se republicam os clássicos salvaguardados pelo PNL (plano nacional de leitura), porque assim, ‘que chatice’, dizem alguns, ‘a professora diz que tem de se comprar os livros e não se pode fotocopiar devido àquela ‘mania estranha dos direitos de autor’. Generalizando demasiado, em Portugal só se lê porque é obrigatório na escola. Há quem tenha lido o seu último livro no 12° ano. Claro, há excepções. Conheço pessoas que lêem tanto e tão bem que nunca arriscariam ler um livro meu. Mas a norma resume-se a esta frase que uma vez ouvi da boca de um jovem casal e nunca mais esqueci, com o desgosto: “Nós não lemos”. 
Maria Saraiva de Menezes





Encomendas do livro ‘História numa Garrafa’ (1095 ‘short stories’, 660 páginas, €22,50) 10% desconto e oferta de portes, autografado. Edição limitada). Pedidos para mariademenezes@gmail.com ou @historianumagarrafa (Facebook e Instagram).

Mais informações sobre o livro neste blogue (sinopse e prefácio. Biografia na coluna lateral direita).

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